data-filename="retriever" style="width: 100%;">Acontecimentos recorrentes, fatos ordinários, que de tão comuns, têm o condão de serem absorvidos pela sociedade com as cores da normalidade, tanto que podem até usar as vestes da correção e, pior, alcançarem a insensibilidade daqueles de lombo grosso dadas as inúmeras relhadas.
Se sublimam e se petrificam em nosso cotidiano, quando atingem o patamar das coisas aparentemente imutáveis, às quais devemos nos acostumar e até a contar como dado objetivo a ser relevado ou, no mínimo, ignorado. Vão além: se estabelecem como "bem coisa nossa", ao ponto de permearem o anedotário popular.
O assim atávico, tradicional, costumeiro, sabido, tantas vezes experimentado, vergonhoso, improdutivo, leviano, prevalecido, rechaçável, asqueroso, tanto quanto famoso jargão do "sabe com quem está falando?" é só um dos artigos deste acervo de barbaridades.
Se a sensação de impunidade, socialmente consabida, é uma das causas (só uma de tantas) da criminalidade de toda a ordem e grandeza, do furto ao homicídio, tenham a certeza, o abuso de autoridade também se lastrou, e muito, na também certeza de sanção nunca vinda.
Na subversão de poderes concedidos pela própria cidadania à função, nunca ao indivíduo, à lo largo de agentes públicos abrigados pelo biombo estatal demonstraram coragem circunstancial jamais vista e nunca apresentada caso, ou quando, despidos dos cargos em que investidos. Para além da segurança no poderio do Estado, tiveram por munição a confiança nas corregedorias e a ciência de que, no pior dos casos, perderiam alguma função gratificada ou, quem sabe, seriam somente removidos, o que não solucionaria o problema social que representavam, apenas o trocariam de lugar.
Por tão grave quanto tudo isso, maculavam injustamente a totalidade de seus colegas que, cientes de suas funções, responsabilidades e importâncias, sempre exerceram suas obrigações à luz da decência e, por consequência. Mais, impunham descrédito às próprias instituições respectivas.
Até confrontos entre agentes desta ou daquela natureza, daquela ou desta grandeza, de carteiras e cargos em punho, como ocorreu um sem número de vezes, por exemplo, por ocasião de blitz no trânsito urbano ou rodoviário. O amigo e a amiga, se nunca viram, tenho certeza, ouviram falar de tal mais de uma vez...
Eis que na última terça-feira, o Congresso Nacional sentou marco capaz de, senão defenestrar as práticas nocivas e vergonhosas da realidade nacional, ao menos dirimir a certeza de incolumidade de antanho.
A lei que criminaliza o abuso de autoridade é passo à frente na senda da defesa dos homens e mulheres deste país que são o norte não apenas das leis, mas das instituições que materializam os valores republicanos, defendendo o conceito das instituições, seus agentes probos por reflexo e, mais, garantindo igualdade entre concidadãos.
Veio a efeito, exatamente, pelo fato de que, tristemente, só mesmo por lei e pena se consegue fazer ver como devem agir alguns dos que não entendem que se habilitaram por concurso ou eleição para servir, e não para se distinguir ou se servir.
Há temor, por óbvio, por muitos deles. Mas não naqueles que exercem ou exercerão a autoridade nos limites legais, e somente para seus fins lícitos. Já nos abusadores ou pretensos arbitrários, considero não apenas natural a insurgência, ou mesmo o medo. Acho até recomendável...